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quarta-feira, 14 de junho de 2017

'É difícil ler com tiroteio’, diz pai de menina da Maré que chorou ao perder aula

Menina de 4 anos perdeu aula e chorou

Carolina (nome fictício), de 4 anos, estava prontinha para um dia de aula. Sapatilha rosa, uniforme passado, coque preso no topo da cabeça e mochila arrumada. Até que ouviu o barulho dos fogos — sinal emitido pelos bandidos para alertar que a polícia está entrando na favela, o que antecede o tiroteio. “Pai, é tiro de novo, né? Caramba, não vai ter aula”, disse a criança, com os olhos molhados de tristeza. O relato desse pai, morador da Maré, ganhou as redes sociais. Carol foi uma entre 9.202 estudantes que perderam a aula ontem por conta da violência.
— A minha filha entendeu isso há algum tempo. O disparo dos fogos seguido dos tiroteios é menos um dia de aula — conta o pai, de 26 anos: — Quando ela virou, estava chorando. E eu a abracei. Tentei distrair desse assunto, mas é difícil ver TV ou ler um livro enquanto tem tiroteio tão perto. Ficamos num lugar seguro da nossa casa até o confronto acabar lá fora.

Menina de 4 anos fez cartinha a pedido do EXTRA

O pai de Carolina, cuja identidade será preservada por segurança, entende o valor da sala de aula. Foi dentro da escola que aprendeu o ofício no qual trabalha.
— Dói muito. Mas eu já estive no lugar dela, de querer ir para a escola e não conseguir porque eu também estudei na Maré. A escola nos traz vivência demais. A gente perde um dia e sente muito. Todo dia ela fala de alguma coisa diferente que aprendeu. E isso foi rompido por causa da violência. Sabe o que ela aprendeu nesse dia? A se esconder de uma forma diferente — conta.
Menina de 4 anos fez cartinha a pedido do EXTRA
A menina entrou na série do EXTRA em que estudantes da rede pública do Rio escrevem cartinhas sobre paz e violência.
Tiros na Maré deixam mortos
O tiroteio que deixou Carolina sem aula resultou na morte de uma pessoa e deixou outras duas feridas.
William Carlos Costa Machado, de 20 anos, que, segundo a Polícia Civil, estava com um fuzil e participava do confronto com agentes, morreu após ser baleado. Já Jandson Josué Da Silva Belizário, de 24 anos, foi baleado. Ele foi levado para o Hospital Geral de Bonsucesso. O outro ferido é Bruno Braga de Freitas, de 26 anos, que teria sido levado por traficantes para um hospital particular. Depois, segundo a Polícia Civil, Bruno foi encontrado pelos agentes e acabou preso porque tinha um mandado de prisão preventiva em aberto pelos crimes de tráfico e associação para o tráfico de drogas.
Na cidade, foram 27 unidades escolares fechadas por conta da violência: na Maré (7.596 alunos afetados), Cidade de Deus (648), Acari (429) e no Alemão (529).
Cartinha de uma criança de 8 anos de um colégio de Paciência
“Eu vi a polícia na rua e ela deu tiro e depois a gente fica no silêncio. No outro dia, pararam a gente na rua. A polícia atirou no cara e sangrou muito. Ele ficou ferido e a mulher ajudou o menino. E quando ficou de noite deu muito tiro e a gente correu para a casa. E correu muito rápido, mas muito rápido. E assim que é a minha rua. Abraços

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